75ª SOEA - “Dedo na Ferida”: engenharia e desigualdades

75ª SOEA - “Dedo na Ferida”: engenharia e desigualdades

Exibição do documentário de Sílvio Tendler gera importante debate na Soea

A convite do cineasta Sílvio Tendler, público subiu ao palco ao final da exibição de “Dedo na Ferida”, no segundo dia da Soea

Um encontro fundamental para o enfrentamento da crise e do processo de desigualdade social do país. Esse foi o comentário do cineasta Sílvio Tendler (de “Jango” e “Os Anos JK”), após a exibição do seu mais recente filme “Dedo na Ferida” (2017), que contou apoio institucional da Federação Interestadual dos Sindicatos de Engenheiros (Fisenge) e do Sindicato dos Engenheiros do Rio de Janeiro (Senge-RJ), cujos presidentes, Clovis Nascimento, Olímpio Alves dos Santos, respectivamente, também participaram do debate no auditório-máster do Centro de Eventos Ruth Cardoso, em Maceió, no início da noite desta quarta (22). Em 2014, a parceria havia rendido outro documentário: “Privatizações: a Distopia do Capital”.

Parceria entre Sílvio Tendler, Fisenge e Senge-RJ já havia rendido outro documentário, “Privatizações: a Distopia do Capital”

Para Sílvio, atingir outros públicos, é um dos objetivos do filme, premiado em festivais como o Festival do Rio, Festival do Rio (Prêmio Júri Popular), Festival de Havana (seleção oficial) e Festival Internacional de Cinema Político da Argentina (Menção Honrosa). “Não é com desemprego e destroçando a Engenharia nacional e o conteúdo local que vamos conseguir valorizar a nossa economia. Tenho discutido muito essa problemática com o pessoal da Engenharia”, disse o diretor.

 

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Presidente da Fisenge, Clóvis Nascimento: filme desperta o debate, em momento de decisão política para o país

Outra lógica é possível

No debate, o presidente da Fisenge, Clóvis Nascimento, afirmou que “esse filme busca jogar uma luz sobre os interesses obscuros para a população”. Ele também comentou que “o processo eleitoral, em outubro, não resolverá o problema do Brasil de imediato. Vamos ter muita luta para inverter essa lógica”, disse, em relação à temática do filme, a da crise promovida pelo sistema financeiro em 2008, mostrando sua corrupção, sua impunidade, suas debilidades originais e suas consequências em torno da elevação dos juros e dos desinvestimentos sociais e produtivos, por meio de depoimentos de economistas, como o professor Guilherme Mello (Unicamp), de pesquisadores, como o sociólogo Boaventura de Sousa Santos e de artistas, como o cineasta Costa-Gravas, entre empresários, diplomatas e outros cidadãos brasileiros e internacionais, prejudicados por esses processos ou críticos a eles.

Presidente do Senge-RJ, Olímpio Alves dos Santos: “Sindicato além do corporativismo”

Nesse sentido, o conselheiro do Crea-PR Ricardo Vidinich criticou a subserviência da engenharia aos juros extorsivos para as obras. “Os juros são uma forma de o capital financeiro se apropriar do dinheiro das pessoas. São recursos que vão para um setor que não produz nada, nem paga qualquer imposto, faz uma verdadeira evasão fiscal”, respondeu o presidente do Senge-RJ, Olímpio Alves dos Santos, que ressaltou que, “ao produzir uma película como essa, o Sindicato, mais do que se ater à luta corporativa, atende ao dever de contribuir para o desenvolvimento do país e desnudar os mecanismos de desigualdade e da captura da nossa democracia”.

Cineasta Sílvio Tendler diz que tem conversado muito com engenheiros sobre o cenário econômico do país

Apesar de contar com um público pequeno, que se reuniu no final com os debatedores para uma fotografia sobre o palco, a convite de Sílvio Tendler, o debate promoveu depoimentos bastante ricos. “Cinquenta e um por cento do que é produzido no Brasil vão para os bancos. São R$ 13 bilhões/ano, enquanto a população de rua aumentou muito e o sistema educacional está em frangalhos”, disse Tendler, apoiado por um dos participantes: “A corrupção não é o grande problema brasileiro, do ponto de vista econômico, mas os juros subversivos da corrente financeira”.

Conselheiro do Crea-PE, eng. ftal. Everson Oliveira destaca a importância da iniciativa para profissionais reverem expectativas

Em conversa com a reportagem ao final da exibição de “Dedo na Ferida”, o engenheiro florestal Everson Oliveira, conselheiro regional do Crea-PE, comentou que o filme demonstra que é necessário estabelecer um novo olhar para a sociedade. “Não nos preocupando apenas com o nosso umbigo, mas nos alertando sobre a problemática do país e sobre a melhor maneira de resolver, nesse momento eleitoral, inclusive, imitando a própria natureza em alguns aspectos”.

Henrique Nunes (Confea)
Equipe de Comunicação da 75ª Soea

Fotos: Camila Martins/Fisenge e Art Imagem Fotografias